La Cumparsita

En tus Brazos (corto animado) D.R. Edouard Jouret, Matthieu Landour y François-Xavier Goby

La Cumparsa
de miserias sin fin
desfila,
en torno de aquel ser
enfermo,
que pronto ha de morir
de pena.
Por eso es que en su lecho
solloza acongojado,
recordando el pasado
que lo hace padecer.

Abandonó a su viejita.
Que quedó desamparada.
Y loco de pasión,
ciego de amor,
corrió
tras de su amada,
que era linda, era hechicera,
de lujuria era una flor,
que burló su querer
hasta que se cansó
y por otro lo dejó.

Largo tiempo
después, cayó al hogar
materno.
Para poder curar
su enfermo
y herido corazón.
Y supo
que su viejita santa,
la que él había dejado,
el invierno pasado
de frío se murió

Hoy ya solo abandonado,
a lo triste de su suerte,
ansioso espera la muerte,
que bien pronto ha de llegar.
Y entre la triste frialdad
que lenta invade el corazón
sintió la cruda sensación
de su maldad.

Entre sombras
se le oye respirar
sufriente,
al que antes de morir
sonríe,
porque una dulce paz le llega.
Sintió que desde el cielo
la madrecita buena
mitigando sus penas
sus culpas perdonó.

(Gerardo Matos Rodríguez)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 2.07.13

O tempo

Esses dias.
Passados feito tinta
Que escorre num quadro novo

Descobri, ainda são,
Da amizade mais pura
Mais traiçoeira

Que de tanto dela falar
Não vejo por onde pousa
Ou se pousa: se esconde.

Descobri que
Esse verme branco
Essa virgem cega
É meu amigo incrédulo
Indiferente
Mal-humorado às vezes.

Descobri que esse parceiro mudo
É um amigo relapso.
Certa tarde se senta, nos cumprimenta

Mostra-nos um pé
De Jabuticaba numa
Esquina que andamos todo dia.

E nunca vemos.

Sorri, de soslaio.

E dele a gente se esquece, se conforma.

Até o dia que surge novamente.
Num ponto de ônibus ou numa noite sem estrelas.
No velório de um amor perdido:

Ou de nós mesmos.

(Poeta Bastardo)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 1.07.13

Cuando juega Uruguay

autoria:

Como un cielo de verano,
como el trueno de un tambor
por la cara del murguista,
cuando baja del camión.
Asomando por el túnel,
dominando la emoción.
A la cancha la celeste,
al boliche de la esquina,
cerca del televisor.

Vamo’ vamo’ arriba la celeste,
vamo’ desde el Cerro a Bella Unión,
vamo’ como dice en Negro Jefe,
los de afuera son de palo,
que comince la función.
Vamo’, vamo’ arriba la celeste,
vamo’ la de ayer y la de hoy.
Vamo’ los championes de los pibes,
los botines del ’50,
rock and roll y bandoneón.
Cuando juega Uruguay corren tres millones,
corren las agujas, corre el corazón,
corre el mundo
y gira el balón,
corre el pingo de la ilusión,
como un augurio de aquella canción.
Vamo’ uruguayos campeones de América y del mundo.
Vamo’ hacha y tiza y mostrador.
Vamo’ que la historia esta cantando,
con el ritmo de La Teja, con la fuerza de La Unión,
vamo’ vamo’ vamo’ vamo’ arriba la celeste,
vamo’ con la pinta de un gorrión,
vamo’ con linaje de rebelde,
sin más gala que su vuelo,
con destino de campeón.

(Jaime Roos)



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Categoria: Poesia |
Tags:
| Postado em: 10.06.13

Balada del ausente

Montevideo

Entonces no me des un motivo por favor
No le des conciencia a la nostalgia,
La desesperación y el juego.
Pensarte y no verte
Sufrir en ti y no alzar mi grito
Rumiar a solas, gracias a ti, por mi culpa,
En lo único que puede ser
Enteramente pensado
Llamar sin voz porque Dios dispuso
Que si Él tiene compromisos
Si Dios mismo le impide contestar
Con dos dedos el saludo
Cotidiano, nocturno, inevitable
Es necesario aceptar la soledad,
Confortarse hermanado
Con el olor a perro, en esos días húmedos del sur,
En cualquier regreso
En cualquier hora cambiable del crepúsculo
Tu silencio
Y el paso indiferente de Dios que no ve ni saluda
Que no responde al sombrero enlutado
Golpeando las rodillas
Que teme a Dios y se preocupa
Por lo que opine, condene, rezongue, imponga.
No me des conciencia, grito, necesidad ni orden.
Estoy desnudo y lejos, lo que me dejaron
Giro hacia el mundo y su secreto de musgo,
Hacia la claridad dolorosa del mundo,
Desnudo, sólo, desarmado
bamboleo mi cuerpo enmagrecido
Tropiezo y avanzo
Me acerco tal vez a una frontera
A un odio inútil, a su creciente miseria
Y tampoco es consuelo
Esa dulce ilusión de paz y de combate
Porque la lejanía
No es ya, se disuelve en la espera
Graciosa, incomprensible, de ayudarme
A vivir y esperar.
Ningún otro país y para siempre.
Mi pie izquierdo en la barra de bronce
Fundido con ella.
El mozo que comprende, ayuda a esperar, cree lo que ignora.
Se aceptan todas las apuestas:
Eternidad, infierno, aventura, estupidez
Pero soy mayor
Ya ni siquiera creo,
En romper espejos
En la noche
Y lamerme la sangre de los dedos
Como si la hubiera traído desde allí
Como si la salobre mentira se espesara
Como si la sangre, pequeño dolor filoso,
Me aproximara a lo que resta vivo, blando y ágil.
Muerto por la distancia y el tiempo
Y yo la, lo pierdo, doy mi vida,
A cambio de vejeces y ambiciones ajenas
Cada día más antiguas, suciamente deseosas y extrañas.
Volver y no lo haré, dejar y no puedo.
Apoyar el zapato en el barrote de bronce
Y esperar sin prisa su vejez, su ajenidad, su diminuto no ser.
La paz y después, dichosamente, en seguida, nada.
Ahí estaré. El tiempo no tocará mi pelo, no inventará arrugas, no me inflará las mejillas
Ahí estaré esperando una cita imposible, un encuentro que no se cumplirá.

(Juan Carlos Onetti)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 1.04.13

A Questão que se Coloca

O que é grave
É sabermos
que atrás da ordem deste mundo
existe uma outra
Que outra?
Não o sabemos.
O número e a ordem de suposições possíveis
neste campo
é precisamente
o infinito!
E o que é o infinito?
Não o sabemos com certeza.
É uma palavra que usamos
para designar
abertura
da nossa consciência
diante da possibilidade
desmedida,
inesgotável e desmedida.
E o que é a consciência?
Não o sabemos com certeza.
É o nada.
Um nada
que usamos
para designar
quando não sabemos alguma coisa
e de que forma
não o sabemos
e então
dizemos
consciência,
do lado da consciência
quando há cem mil outros lados.
E então?
Parece que a consciência
está ligada
em nós
ao desejo sexual
e à fome.
Mas poderia
igualmente
não estar ligada
a eles.
Dizem,
é possível dizer,
há quem diga
que a consciência
é um apetite,
o apetite de viver:
e imediatamente
junto com o apetite de viver
o apetite da comida
imediatamente nos vem à mente;
como se não houvesse gente que come
sem o mínimo apetite;
e que tem fome.
Pois isso também
existe:
os que tem fome
sem apetite;
e então?
Então
o espaço do possível
foi-me apresentado
um dia
como um grande peido
que eu tivesse soltado;
mas nem o espaço
nem a possibilidade
eu sabia exatamente o que fossem,
nem sentia necessidade de pensar nisso,
eram palavras
inventadas para definir coisas
que existiam
ou não existiam
diante da
premente urgência
de uma necessidade:
suprimir a ideia,
a ideia e seu mito
e no seu lugar instaurar
a manifestação tonante
dessa necessidade explosiva:
dilatar o corpo da minha noite interior,
do nada interior
do meu eu
que é noite,
nada,
irreflexão,
mas que é explosiva afirmação
de que há
alguma coisa
para dar lugar:
meu corpo.
Mas como,
reduzir meu corpo
a um gás fétido?
Dizer que tenho um corpo
porque tenho um gás fétido
que se forma em mim?
Não sei
mas
sei que
o espaço,
o tempo,
a dimensão,
o devir,
o futuro,
o destino,
o ser,
o não-ser,
o eu,
o não-eu
nada são para mim;
mas há uma coisa
que é algo,
uma só coisa
que é algo
e que sinto
por ela querer
SAIR:
a presença
da minha dor
do corpo,
a presença
ameaçadora
infatigável
do meu corpo;
e ainda que me pressionem com perguntas
e por mais que eu me esquive a elas
há um ponto
em que me vejo forçado
a dizer não,
NÃO
à negação;
e chego a esse ponto
quando me pressionam,
e me apertam
e me manipulam
até sair de mim
o alimento,
meu alimento
e seu leite,
e então o que fica?
Fico eu sufocado;
e não sei que ação é essa
mas ao me pressionarem com perguntas
até a ausência
e a anulação
da pergunta
eles me pressionam
até sufocarem em mim
a ideia de um corpo
e de ser um corpo,
e foi então que senti o obsceno
e que
soltei um peido
de saturação
e de excesso
e de revolta
pela minha sufocação.
É que me pressionavam
ao meu corpo
e contra meu corpo
e foi então
que eu fiz tudo explodir
porque no meu corpo
não se toca nunca

(Antonin Artaud)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 14.03.13

Pluralidade

Surrealismo-Evora

Poema – texto dedicado à ferrugem dos dias

A caneta que tenho em punho veio de algum lugar que não sei. Tem livros aqui do lado da França, da Grécia, Alemanha, China. Creio que a mochila é boliviana. Os artigos das revistas na estante vêm de lugares que ninguém se importa muito. Tem pôsteres de Itália e da Inglaterra. A cama de madeira vem do suor brasileiro. A merda que depositei agora pouco no vaso tem restos de alimentos diversos, da Suíça, Estados Unidos, Inglaterra, creio também. O pão é caseiro, veio daqui mesmo. O vírus que me faz o nariz escorrer agora pode ter vindo de muitos lugares. Minha lixeira tem farelos de biscoitos, cinza de cigarros, plástico industrial e jornal velho com um classificado que li, mas não encontrei apartamentos acessíveis, nem empregos que me aceitem como sou; só hermafroditas e prostitutas trocando sexo por dinheiro. Assim talvez caguem mais pluralidade nos vasos deles. Porcelana de algum outro lugar. Látex de restos de camisinha e sêmen velho. O fogo do meu isqueiro pode ter vindo do comburente de deus ou da puta que pariu mesmo. O lagarto na parede veio da África; descobriram que ele come as aranhas marrons de Curitiba. Muita gente que caga pluralidade e deixa os restos de sêmen no chão estavam morrendo da picada. Ou talvez do capitalismo. Tem madeira em forma de papel perto da porta e tinta que diz uma lista de autores para ler e regras da ABNT pra se seguir. Cortador de unha, clipe de papel, calculadora que meu avô me deu e um copo de vidro ou seria pote de maionese em que bebo a água da torneira. Café e açúcar, o açúcar mesmo que fez os ciclos assim como o café, a borracha, a água e o nitrogênio. Vieram de lugares distantes e de mãos sujas diferentes e vão para o cano de esgoto diferente e para o ratinho lectospirante diferente. E a palavra veio de papeis diversos que li e me esqueci, alguns eu lembro e cito baboseira de outros cagões. O tédio que me levou à caneta pode ter vindo da ferrugem dos dias ou da pobreza das relações sociais. As cinco mil substâncias tóxicas que recheavam meu bastão do câncer vieram de putas e máquinas aleatórias, não sei de onde e agora já acabaram pintando de um marrom-morte a carniça de meu pulmão. O gosto de sono veio dos campos de Morpheu e agora invadem minha noite que vem e volta todo dia até não precisar mais.

(Poeta Bastardo)



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Categoria: Prosa |
| Postado em: 12.03.13

8 quartetos

Tenho um tumor benigno no canto direito da mandíbula
Uma porção de literatura infantojuvenil
47 quilos de república desunida
E um peito vazio de inspiração

Mas espere
Tem tanta guerra interior
Nas esquinas com bares boates
E senhoras que criam seus sobrinhos

Mas espere
A manhã chegou tão vigorosa e vermelha.
Como se não houvesse miséria e espanto; esquina e devaneio
Centelha de vidro

Tem tanto amor não sei de onde neste peito vazio
Neste cardíaco de um só quarto e tanto afeto para um só beijo sem sabor discernível.
Pra um só sorriso que iluminará de beleza e simplicidade
Minhas manhãs cor de jornal de meu futuro turvo e egoísta.

Como estrela
Como tartarugas no infinito azul
Como flor;
Nascida no gelo cortante; veneno e arrepio

Espero e vejo
Não é mais turva a visão da ilusão
É pueril de leveza e fantasia
Que tal beijo sem sabor

Enfeitou de vida e calor
Colar querido
E rancor
Em forma de luz castanha e viva.

(Poeta Bastardo)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 23.12.12

Céu

Ontem enquanto masturbava-me pensando numa puta que quase engravidei uns meses atrás, lembrei de uma vez que uma menina me respondeu com uma piada boba. Perguntei, depois de procurar alguns minutos, com a mania de falar como quem escreve num bate-papo:

– Cadê meu “cel”?

– Tá aqui, amor – a menina me respondeu, sentada na minha cama, com um sorriso sincero e os braços abertos esperando um abraço.

Às vezes sem querer, enquanto procuro a merda do celular embaixo da cama ou entre tampas de panela que uso como cinzeiro e a lembrança do céu que eu mal percebia enquanto ainda havia bonança e a brisa fresca de nossas pizzas de sábado e os filmes sem noção do Lynch de madrugada, eu ainda posso ver as nuvens se abrindo quando a porta do ônibus se abre ou toca o celular e não o lençol gigante cheio de luzes mortas.

E eu posso dizer que punheta nenhuma sobreviveria a uma lembrança dessas. O abraço, que eu na hora dei cheio de um afeto apaixonado e sem escrúpulos, dias depois se tornou uma ausência que vez ou outra senta na minha cama, ouve a minha música, lê meus livros. E nessas horas não resta muita coisa a se fazer a não ser sentar com aquela ausência, oferecer um trago, balbuciar frases antigas, cantar algum trecho de uma música indie melosa e fingir que aquele vazio canta com você.

É… Nada pior do que quando a culpa mata uma foda. Mesmo que artificial.

(Poeta Bastardo)



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Categoria: Prosa |
| Postado em: 21.12.12

Ariel

autoria:

Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.

Leoa do Senhor como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!… O sulco

Afunda e passa, irmão
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.

Sementes
De olhos negros lançam escuros
Anzóis…

Negro, doce sangue na boca,
Sombra,
Um outro vôo

Me arrasta pelo ar…
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.

E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança

Escorre pela parede.
E eu
Sou a flexa,

O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho

Vermelho, caldeirão da manhã.

(Sylvia Plath)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 13.12.12

Seis e Meia

Todo dia de manha às seis e meia ela vai à panificadora e compra algumas moedas de pão francês e um litro de leite integral. Cabelo quebradiço dedos de unhas mordidas e mãos de quem conheceu cedo a madeira áspera de uma enxada. Um par de velhas havaianas amarelas com um desenho da bandeira do Brasil suportam seus pés escurecidos e sujos de uma poeira vermelha.

Seu corpinho franzino de pele seca e ossos proeminentes sustenta um vestidinho de pano fino e maltratado que sua mãe lutara e vira a glória ao comprar. Um andar desconfiado e desajeitado a empurra pelo corredor limpo e bem encerado da seção de frios e massas. Escolhe os pãezinhos um a um, sempre os mais branquinhos e macios. As prateleiras parecem mundos de maravilhas com seus doces bonitos e refrigerantes de sabores desconhecidos.

Ela não se pergunta se num futuro próximo haverá um lugar desses, onde ela possa trabalhar. Não se pergunta de onde vem o trigo usado pra deixar a massa dos pães tão saborosa. Não se pergunta nem se esses pães realmente vieram da França… Ela se questiona às vezes pela noite onde estaria seu pai. Sonha com um daqueles bolos de chocolate que vê todo dia de manhã. Um bem gigante! Pra poder dividir com seus irmãos assim como divide sua cama e seu suor. Pede ao seu Deus pra não ver mais sua mãe chorando antes de dormir…

Espera alguns minutinhos na fila observando atenta as coisas que passam na TV, presa a parede. Estica-se um pouco pra alcançar o balcão do caixa e paga o café da manhã de sua família sem nunca esquecer os vinte e cinco centavos de troco. O aroma da massa ainda lhe tortura assim como tantas coisas que ela não entenderá. Volta pra casa com um passo lento e ininterrupto. Não há com o que se preocupar. Ninguém a reparou. Ninguém irá reclamar de nada. Sua mãe pode perdoar sua demora. O dono da padaria pode perdoar seus pés sujos. O mundo pode perdoar a ausência de um sorriso.

(Poeta Bastardo)



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Categoria: Prosa |
| Postado em: 7.12.12