O tempo

Esses dias.
Passados feito tinta
Que escorre num quadro novo

Descobri, ainda são,
Da amizade mais pura
Mais traiçoeira

Que de tanto dela falar
Não vejo por onde pousa
Ou se pousa: se esconde.

Descobri que
Esse verme branco
Essa virgem cega
É meu amigo incrédulo
Indiferente
Mal-humorado às vezes.

Descobri que esse parceiro mudo
É um amigo relapso.
Certa tarde se senta, nos cumprimenta

Mostra-nos um pé
De Jabuticaba numa
Esquina que andamos todo dia.

E nunca vemos.

Sorri, de soslaio.

E dele a gente se esquece, se conforma.

Até o dia que surge novamente.
Num ponto de ônibus ou numa noite sem estrelas.
No velório de um amor perdido:

Ou de nós mesmos.

(Poeta Bastardo)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 1.07.13

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