Chamado Selvagem
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O mundo tornou-se algo estranho a sua percepção. Sentia a cidade pulsar como um coração bombeando sangue. As primeiras semanas que se seguiram a sua morte foram mágicas, não como a mágica fútil do vendedores de ilusão. Era como se toda a realidade se modificasse a sua vontade. O universo se encarregava de tudo.
Após sua morte… Tornou-se poderosa. Capaz de influenciar pensamentos, desejos e entropia. O que ela estava se tornando? Quem ela era agora? Humana? Talvez um espírito de vingança que vaga pela cidade – ela já leu isso em algum quadrinho. Adormecia. Fora a semana mais louca de toda sua vida, onde os sete dias da semana realmente não passaram de sete horas de um domingo qualquer. Mas por fim, adormeceu! Sonhou tornando-se “la higuera” de Juana de Ibarbourou.
Havia morrido num sábado, num sábado por olhos de natureza morta. E já não conseguia diferenciar a realidade do sonho e nem se a realidade não era uma grande prisão.
Amava a banda Velvet Underground…
Mais do que a pergunta sobre o que estava acontecendo consigo e se ainda era humana, foi uma fagulha sem importância alguma que adentrou sua mente: “Como vou explicar o estado do apartamento ao sindico? E será que o seguro cobre os tacos de madeira que tornaram-se rizomas?”
(Poeta Mórbido)