O poeta atira as armas alheias,
pronto o reino inimigo esta tomado
O Poeta Mórbido não chora
O caminho para liberdade esta cheio de bárbaros
E é inútil prosseguir viagem.
Desce a escuridão sobre os homens,
A tua eterna lanterna de luz roxa ilumina os passos agora…
Para onde vamos?
O que será de nós, se o poeta nos deixar
aqui nessa cidade tomada pela ganância e pelo ódio?
Não precisamos de votos!
Não precisamos de velas!
Neste momento de desespero e agonia
os versos mortos do poeta ganham vida,
ganham formas, viram flores que são entregues na hora do almoço.
Os soluços param as estrelas,
Os bárbaros abandonam a cidade,
As armas são recolhidas à mão.
O poeta não chora,
O poeta não mija,
O poeta não voa,
O poeta só fuma…
Ninguém pode negar
sou melhor pra assustar
reconhecem e respeitam meu talento
De repente apareço e o luar escureço
e me destaco em tudo que invento
Sem esforço eu sou o tal com meu charme espectral
Fama de assustador eu ganhei cedo
Ao mostrar minha mão que ninguém diga
que não assustei aos que diziam não ter medo
Mas ano após ano a rotina me enfastia,
estou cansado de ouvir o mesmos gritos de agonia
E eu Jack, o rei abóbora.
Não aguento mais, as coisas tão iguais.
No interior dos meus ossos agora cresceu demais
a curiosidade de conhecer o mundo lá fora
e essa tal de felicidade.
Sou o mestre do espanto,
o demônio do pranto que de espalhar terror não se cansa.
Apesar do meu porte minha fama
é tão forte que vai desde a Inglaterra até a França
Morto estou reconheça, até tiro a cabeça,
quero ver se você não tem medo
Ninguém faz um truque meu,
ninguém grita como eu, pois a força
é minha e isso eu não concedo
Mas como entenderiam, como explicar,
que o rei abóbora cansou de assustar
Exausto e fraco não quer desistir
Ah se eu pudesse disso tudo desistir
No interior dos meus ossos agora cresceu demais
a curiosidade de conhecer o mundo lá fora
e essa tal de felicidade.
Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma…
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!
Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma…
– Tantos escolhos! Quem podia vê-los? –
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!
Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias…
Sobem-me aos lábios súplicas estranhas…
Sobre o meu coração pesam montanhas…
Olho assombrada as minhas mãos vazias…
Acendendo um fósforo
acendo Prometeu, o futuro, a liquidação dos falsos deuses,
o trabalho do homem.
*
O fósforo: tão raivoso quanto secreto. Furioso, delicado.
Encolhe-se no seu casulo marrom; mas quando chamado e provocado,
polêmico estoura, esclarecendo tudo.
O século é polêmico.
*
O gás não funciona hoje. Temos greve dos gasistas.
A Itália tornou-se a Grevelândia.
Mas preferimos essa semi-anarquia à “ordem” fascista.
O fósforo, hoje em férias, espera paciente no seu casulo
o dia de amanhã desprovido de greves.
O dia racional, o dia do entendimento universal,
o dia do mundo sem classes, o dia de Prometeu totalizado.
*
O fósforo é o portador mais antigo da tradição viva.
Eu sou pela tradição viva, capaz de acompanhar a correnteza
da modernidade. Que riquezas poderosas extraio dela!
Subscrevo a grande palavra de Jaures: “De l’autel des
ancêtres on doit garder non les cendres mais le feu.”
Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,
tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as consciências,
a rua estala com os meus passos,
e ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,
não posso amar ninguém porque sou o amor,
tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir desculpas ao mendigo.
Sou o espírito que assiste à Criação
e que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo.
Nada me fixa nos caminhos do mundo.