Oitavo Andar (Uma Canção Sobre Amor)

Quando eu te vi fechar a porta
eu pensei em me atirar pela janela do 8º andar,
Onde a Dona Maria Mora,
porque ela me adora
e eu sempre posso entrar,

Era bem o tempo de você chegar no Térreo,
olhar no espelho o seu cabelo,
falar com o seu Zé,
E me ver caindo em cima de você
como uma bigorna cai em cima de um cartoon qualquer.

E ai, só nos dois no chão frio,
De conchinha bem no meio fio,
No asfalto riscados de giz,
Imagina que cena feliz!

Quando os paramédicos chegassem
e os bombeiros retirassem
nossos corpos do Leblon,
A gente ia para o necrotério
ficar brincando de sério
deitadinhos no bem-bom.

Cada um feito um picolé,
Com a mesma etiqueta no pé,
Na autópsia daria pra ver,
Como eu só morri por você.

Quando eu te vi fechar a porta
eu pensei em me atirar pela janela do 8° andar,
Invés disso eu dei meia volta
e comi uma torta inteira de amora no jantar.

(Clarice Falcão)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 21.08.13

Canto 4

Cantos de Maldoror

Eu havia adormecido sobre o penhasco. Aquele que, durante um dia, perseguiu o avestruz pelo deserto, sem conseguir alcançá-lo, não teve tempo para alimentar-se e fechar os olhos. Se for quem me lê, será capaz de adivinhar, com rigor, o quanto o sono se abateu sobre mim. Mas, quando a tempestade empurrou verticalmente uma embarcação, com a palma da sua mão, até o fundo do mar; se, na jangada, houver sobrado, de toda a tripulação, apenas um homem, abatido por cansaços e privações de toda espécie; se as vagas o sacodem, como a um destroço, por horas mais prolongadas que as da vida de um homem; e se uma fragata, que singra mais tarde por essas paragens de desolação, com sua quilha fendida, avista o infeliz que passeia sua carcaça descarnada pelo oceano, e lhe traz um socorro que por pouco não foi tardio, creio que esse náufrago adivinhará melhor ainda até que ponto chegou o torpor dos meus sentidos. O magnetismo e o clorofórmio, quando se dão a esse trabalho, sabem às vezes engendrar igualmente tais catalepsias letárgicas. Não têm qualquer semelhança com a morte; seria uma grande mentira dizê-lo. Mas passemos logo ao sonho, para que os impacientes, famintos por esses gêneros de leitura, não se ponham a rugir, como um bando de cachalotes macrocéfalos que combatem entre si por causa de um fêmea grávida. Sonhava que havia entrado no corpo de um porco, que não me era fácil de sair dali, e que chafurdava meus pelos nos mais lodosos brejos. Teria sido uma recompensa? Objeto dos meus desígnios, não pertencia mais à humanidade! Em meu entendimento, assim o interpretei, e experimentei uma alegria mais que profunda.

Contudo, procurava ativamente qual ato de virtude havia realizado, para merecer, da parte da Providência, esse insigne favor. Agora que repassei na memória as diversas fases daquele esmagamento espantoso contra o ventre do granito, durante o qual a maré, sem que eu o reparasse, passou por duas vezes sobre essa mistura irredutível de matéria morta e carne viva, talvez não seja inútil proclamar que tal degradação não passou, provavelmente, de uma punição, imposta a mim pela justiça divina. Mas quem conhece suas necessidades íntimas ou a causa de suas alegrias pestilentas? A metamorfose nunca apareceu a meus olhos senão como elevada e magnânima ressonância de uma felicidade perfeita, que esperava há muito. Finalmente, havia chegado, o dia em que fui porco! Exercitava meus dentes sobre a casca das árvores; meu focinho, eu o contemplava deliciado. Não restava a menor parcela de divindade; soube elevar minha alma até a excessiva altura dessa volúpia inefável. Ouvi-me, pois, e não vos ruborizeis, inesgotáveis caricaturas do belo, que levais a sério o ridículo relincho da vossa alma, soberanamente desprezível; e que não entendeis porque o Todo Poderoso, em um raro momento de excelente humor, que certamente não ultrapassa as grandes leis gerais do grotesco, permitiu-se, um dia, o mirífico prazer de fazer que um planeta fosse habitado por seres singulares e microscópicos, que são denominados humanos, e cuja matéria se assemelha à do coral vermelho. Sem dúvida tendes razão em vos ruborizar, ossos e gordura, porém escutai. Não invoco vossa inteligência; obrigariam-na a vomitar sangue, pelo horror que vos testemunha; esquecei-a, e sede consequentes convosco mesmos… Lá, não havia mais empecilho.

Quando queria matar, matava; isso me acontecia com frequência, e ninguém o impedia. As leis humanas ainda me perseguiam com sua vingança, embora eu não atacasse a raça que abandonara tão tranquilamente; mas minha consciência não me recriminava de coisa alguma. Durante o dia, lutava com meus novos semelhantes, e o solo ficava semeado de numerosas camadas de sangue coagulado. Era o mais forte, e alcançava todas as vitórias. Feridas pungentes cobriam meu corpo; aparentava não reparar nelas. Os animais terrestres se afastavam de mim, e eu ficava só em minha esplendorosa grandeza. Qual não foi, pois, meu espanto quando, depois de ter atravessado um rio a nado, para afastar-me de paragens que minha fúria havia despovoado, e chegar a outros campos para neles implantar meus hábitos de assassínio e carnificina, tentei caminhar sobre essa margem florida. Meus pés se haviam paralisado; movimento algum vinha trair a verdade dessa imobilidade forçada. Em meio a esforços sobrenaturais para prosseguir meu caminho, foi então que despertei, e senti que voltava a ser homem. A Providência assim fazia-me entender, de um modo que não é inexplicável, que não desejava, mesmo em sonhos, que meus sublimes projetos se realizassem. Voltar a minha forma primitiva foi para mim uma dor tão grande que, durante as noites, ainda choro por causa disso. Meus lençóis estão constantemente molhados, como se tivessem sido postos a enxaguar, e todo dia mando trocá-los. Se não acreditais, vinde ver-me; verificareis, por vossa própria experiência, não a verossimilhança, mas, além disso, a própria verdade da minha afirmação. Quantas vezes, depois dessa noite ao relento, sobre um penhasco, não me juntei às varas de porcos para retomar, como um direito, minha metamorfose destruída! É tempo de abandonar essas lembranças gloriosas, que nada deixam, a sua passagem, senão a pálida via Láctea das lamentações eternas.

(Conde de Lautréamont)



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Categoria: Prosa |
| Postado em: 19.08.13

Mau Despertar

Saio do sono como
de uma batalha
travada em
lugar algum

Não sei na madrugada
se estou ferido
se o corpo
tenho
riscado
de hematomas

Zonzo lavo
na pia
os olhos donde
ainda escorre
uns restos de treva.

(Ferreira Gullar)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 23.07.13

Pacto de Amor

autoria:

Se que te gusto,
pero también le quieres a ella,
se que no puedes jugarle una traición,
porque si se entera muere de dolor.

Se que te gusto,
y no puedes gritarlo por ella,
se que me deseas tanto como yo,
que si no le vieras yo fuera tu razón.

Hablame de amor, dame una esperanza
nunca lo sabra solo tu y yo.
Hablame de amor no quiero olvidar
que mi vida tiene una ilusión.

Dime lo que sientes, lo que yo presiento,
quiero hacer un pacto de amor,
yo sabre esperar por ti,
no te apartes mucho de mi.

Tu también me gustas,
y tengo que ocultarlo por ella,
yo sabre esperar por ti,
no te apartes mucho de mi.

Pero hablame de amor, dame una esperanza
nunca lo sabra solo tu y yo.
Hablame de amor no quiero olvidar
que mi vida tiene una ilusión.

Dime lo que sientes, lo que yo preseinto,
quiero hacer un pacto de amor,
yo sabre esperar por ti,
no te apartes mucho de mi.

(Ana Gabriel)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 21.07.13

Phantom Of The Opera

In sleep he sang to me
In dreams he came
That voice which calls to me
And speaks my name
And do i dream again
For now i find
The phantom of the opera is here
Inside my mind

Sing once again with me
Our strange duet
My power over you
Grows stronger yet
And though you turn from me
To glance behind
The phantom of the opera is there
Inside your mind

Those who have seen your face
Draw back in fear
I am the mask you wear

It’s me they hear

Your spirit and my voice in one combined
The phantom of the opera is there
Inside your mind
He’s there,
The phantom of the opera
Beware,
The phantom of the opera

You always knew
That man and mystery

Were both in you

And in this labyrinth
Were night is blind
The phantom of the opera is here

Inside my mind

Sing! my angel of music

He’s there
The phantom of the opera

 (Andrew Lloyd Webber)

Versão de Isis Vasconcellos



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 15.07.13

Reflexão

autoria:

Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em autossacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.

(Ayn Rand)

 



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Categoria: Prosa |
Tags:
| Postado em: 13.07.13

Como la Primavera


Como una ala negra tendí mis cabellos
sobre tus rodillas.
Cerrando los ojos su olor aspiraste,
dicendome luego:
-¿Duermes sobre piedras cubiertas de musgos?
¿Con ramas de sauces te atas las trenzas?
¿ Tu almohada es de trébol? ¿Las tienes tan negras
porque acaso en ella exprimiste un zumo
retinto y espeso de moras silvestres?
¡Qué fresca y extraña fragancia te envuelve!
Hueles a arroyuelos, a tierra y a selvas.
¿Que perfume usas? Y riendo te dije:
-¡Nintuno, ninguno!
Te amo y soy joven, huelo a primavera.
Este olor que sientes es de carne firme,
de mejillas claras y de sangre nueva.
¡Te quiero y soy joven, por eso es que tengo
las mismas fragancias de la primavera!

(Juana de Ibarbourou)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 13.07.13

Como un jazmín del país

Dijo el muchacho a la moza:
desde el comienzo te vi;
en el sueño, en la vigilia,
como un jazmín del país.

Perfume de la alta noche,
pequeña flor constelada,
en el patio con aljibe
y en mi corazón, guardada.

Yo me voy con Aparicio,
sé que otra divisa labran
tus manos, y llevarán
los varones de esta casa.

Yo me voy con Aparicio,
pero mírame a la cara,
que lo que voy a decirte
se dice una vez y basta.

Sólo una cosa podría
detenerme, una palabra;
di que me quede y me quedo,
jazmín del país, muchacha.

Ella lo miró a los ojos,
pero no le dijo nada,
y nada dijo después,
cuando cayó con Saravia.

Perfume de la alta noche,
pequeña flor constelada,
en el patio con aljibe
y en mi corazón, guardada.

(Alfredo Zitarrosa)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 10.07.13

Descolgando el Cielo

Mezcla de agua dulce
Mezcla de agua y sal
Aldea dentro de esta aldea universal

Mezcla de inmigrantes
Tano y español
Milonga, candombe
Murga y rocanrol

Nunca favoritos
Siempre desde atrás
Milagro que nos abraza
En el minuto virinal

Soy, Celeste soy
Soy, Celeste

Somos de la sangre
Del Maracaná
Y somos la locura
Que picó el penal

Con el viento en contra
Metiendo pedal
Repecho y bajada
Desde el litoral

Descolgando el cielo
Tres millones van
Color que ilumina sueños
Orgullo de identidad

Soy, Celeste soy
Soy, Celeste

Descolgando el cielo
Tres millones van
Color que ilumina sueños
Orgullo de identidad

Descolgando el cielo
Tres millones van
Color que ilumina sueños

(Edú Pitufo Lombardo)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 8.07.13

Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

(Paulo Leminski)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 7.07.13