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As seis cordas

A guitarra
faz soluçar os sonhos.
O soluço das almas
perdidas
foge por sua boca
redonda.
E, assim como a tarântula,
tece uma grande estrela
para caçar suspiros
que boiam no seu negro
abismo de madeira.

(Federico Garcia Lorca)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 22.12.17

Novembro

Realmente,
não vejo por que ignorar…
Que vivemos uma ditadura branca.

É preciso destruir os símbolos
e sepultar a sociedade moderna
nos destroços de suas ilusões.

Caminharemos sobre os escombros
do sonho americano…

Terminara finalmente nosso apocalipse
politicamente administrável,
nossa forma débil de existir,
nossa pobreza rentável.

Não mais os totens e tabus…

Dançaremos a bela música da loucura razoável
e plena sobre o fulgor do indizível.

Movidos pela incerteza,
enquanto navegamos desplugados em corpos de quimera!

Celebraremos, hoje, a vida em seu eterno resistir,
Plugaremos nossas mentes e corpo na infoera…
Abraçando os acontecimentos devir.

Abaixo a abstração sobre o corpo.
Abaixo os paraísos ideais,
no além-mundo.

Viva o corpo e a superfície!
Viva o homem enforcado!

(Poeta Mórbido)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 18.12.17

Dançando

autoria:

Eu sei que lá no fundo
Há tanta beleza no mundo
Eu só queria enxergar

As tardes de domingo
O dia me sorrindo
Eu só queria enxergar

Qualquer coisa pra domar
O peito em fogo
Algo pra justificar
Uma vida morna

O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando com você

Não esqueço aquela esquina
A graça da menina
Eu só queria enxergar

Por isso eu me entrego
À um imediatismo cego
Pronta pro mundo acabar

Você acredita no depois?
Prefiro o agora
Se no fim formos só nós dois
Que seja lá fora

O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando com você.

(Agridoce)

Versão cover de Isis Vasconcellos



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Categoria: Poesia |
Tags:
| Postado em: 17.12.17

Cântigo Negro

autoria:

‘’Vem por aqui’’- dizem-me alguns com olhos doces
Estendo-me os braços e seguros.
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: ’’Vem por aqui’’!
Eu olho-os com olhos lassos
(Há nos meus olhos ironias e cansaços)
E cruzo os braços
E nunca vou por ali…

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
– Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasquei o ventre a minha Mãe.

Não não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: ‘’Vem por aqui’’?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos
Redemoinhar aos ventos
Como farrapos arrastar os pés sangrentos
A ir por aí…

Se vim ao mundo foi
Só pra desflorar floresta virgens
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como pois serei vós
Que me dareis impulsos ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre nas vossas veias sangue velho dos avós
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o longe e a Miragem
Amo os abismos as torrentes os desertos…

Ide! Tendes estradas
Tendes jardins tendes canteiros
Tendes pátrias tendes tetos
E tendes regras e tratados e filósofos e sábios.
Eu tenho minha loucura!
Levanto-a como um facho a arder na noite escura
E sinto espuma e sangue e cântico nos lábios…

Deus e o Diabo e que me guiam mais ninguém.
Todos tiveram pai todos tiveram mãe;
Mas eu que nunca principio nem acabo
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: ‘’Vem por aqui’’!!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se levantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou
Não sei para onde vou

– Sei que não vou por aí!

(José Régio)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 17.12.17

Bem menos

Lembro,

feito volúpia e tremor:

não precisarás

esquecer-me

no caminho

quando eu

já for

menos que memória.

(Poeta Bastardo)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 16.12.17

Ademir da Guia

Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.

Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o.

Ritmo morno, de andar na areia,
da água doente de alagados,
entorpecendo, e então atando
o mais irriquieto adversário.

(João Cabral de Melo Neto)

 



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 16.12.17

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

(Augusto dos Anjos)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 16.12.17

Desejo

autoria:

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

(Victor Hugo)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 31.12.15

Os malditos

(A aparição do poeta)

Quantos somos, não sei… Somos um, talvez dois, três, talvez, quatro; cinco, talvez nada
Talvez a multiplicação de cinco em cinco mil e cujos restos encheriam doze terras
Quantos, não sei… Só sei que somos muitos – o desespero da dízima infinita
E que somos belos deuses mas somos trágicos.

Viemos de longe… Quem sabe no sono de Deus tenhamos aparecido como espectros
Da boca ardente dos vulcões ou da órbita cega dos lagos desaparecidos
Quem sabe tenhamos germinado misteriosamente do sono cauterizado das batalhas
Ou do ventre das baleias quem sabe tenhamos surgido?

Viemos de longe – trazemos em nós o orgulho do anjo rebelado
Do que criou e fez nascer o fogo da ilimitada e altíssima misericórdia
Trazemos em nós o orgulho de sermos úlceras no eterno corpo de Jó
E não púrpura e ouro no corpo efêmero de Faraó.

Nascemos da fonte e viemos puros porque herdeiros do sangue
E também disformes porque – ai dos escravos! não há beleza nas origens
Voávamos – Deus dera a asa do bem e a asa do mal às nossas formas impalpáveis
Recolhendo a alma das coisas para o castigo e para a perfeição na vida eterna.

Nascemos da fonte e dentro das eras vagamos
como sementes invisíveis o coração dos mundos e dos homens
Deixando atrás de nós o espaço como a memória latente da nossa vida anterior
Porque o espaço é o tempo morto – e o espaço é a memória do poeta
Como o tempo vivo é a memória do homem sobre a terra.

Foi muito antes dos pássaros – apenas rolavam na esfera os cantos de Deus
E apenas a sua sombra imensa cruzava o ar como um farol alucinado…
Existíamos já… No caos de Deus girávamos como o pó prisioneiro da vertigem
Mas de onde viéramos nós e por que privilégio recebido?

E enquanto o eterno tirava da música vazia a harmonia criadora
E da harmonia criadora a ordem dos seres e da ordem dos seres o amor
E do amor a morte e da morte o tempo e do tempo o sofrimento
E do sofrimento a contemplação e da contemplação a serenidade imperecível

Nós percorríamos como estranhas larvas a forma patética dos astros
Assistimos ao mistério da revelação dos Trópicos e dos Signos
Como, não sei… Éramos a primeira manifestação da divindade
Éramos o primeiro ovo se fecundando à cálida centelha.

Vivemos o inconsciente das idades nos braços palpitantes dos ciclones
E as germinações da carne no dorso descarnado dos luares
Assistimos ao mistério da revelação dos Trópicos e dos Signos
E a espantosa encantação dos eclipses e das esfinges.

Descemos longamente o espelho contemplativo das águas dos rios do Éden
E vimos, entre os animais, o homem possuir doidamente a fêmea sobre a relva
Seguimos… E quando o decurião feriu o peito de Deus crucificado
Como borboletas de sangue brotamos da carne aberta e para o amor celestial voamos.

Quantos somos, não sei… somos um, talvez dois, três, talvez quatro; cinco, talvez, nada
Talvez a multiplicação de cinco mil e cujos restos encheriam doze terras
Quantos, não sei… Somos a constelação perdida que caminha largando estrelas
Somos a estrela perdida que caminha desfeita em luz.

(Vinicius de Moraes – Rio de Janeiro, 1935)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 2.09.15

Queda Prohibido

¿Qué es lo verdaderamente importante?,
busco en mi interior la respuesta,
y me es tan difícil de encontrar.

Falsas ideas invaden mi mente,
acostumbrada a enmascarar lo que no entiende,
aturdida en un mundo de irreales ilusiones,
donde la vanidad, el miedo, la riqueza,
la violencia, el odio, la indiferencia,
se convierten en adorados héroes,
¡no me extraña que exista tanta confusión,
tanta lejanía de todo, tanta desilusión!.

Me preguntas cómo se puede ser feliz,
cómo entre tanta mentira puede uno convivir,
cada cual es quien se tiene que responder,
aunque para mí, aquí, ahora y para siempre:

Queda prohibido llorar sin aprender,
levantarme un día sin saber qué hacer,
tener miedo a mis recuerdos,
sentirme sólo alguna vez.

Queda prohibido no sonreír a los problemas,
no luchar por lo que quiero,
abandonarlo todo por tener miedo,
no convertir en realidad mis sueños.

Queda prohibido no demostrarte mi amor,
hacer que pagues mis dudas y mi mal humor,
inventarme cosas que nunca ocurrieron,
recordarte sólo cuando no te tengo.

Queda prohibido dejar a mis amigos,
no intentar comprender lo que vivimos,
llamarles sólo cuando los necesito,
no ver que también nosotros somos distintos.

Queda prohibido no ser yo ante la gente,
fingir ante las personas que no me importan,
hacerme el gracioso con tal de que me recuerden,
olvidar a todos aquellos que me quieren.

Queda prohibido no hacer las cosas por mí mismo,
no creer en mi dios y hallar mi destino,
tener miedo a la vida y a sus castigos,
no vivir cada día como si fuera un último suspiro.

Queda prohibido echarte de menos sin alegrarme,
odiar los momentos que me hicieron quererte,
todo porque nuestros caminos han dejado de abrazarse,
olvidar nuestro pasado y pagarlo con nuestro presente.

Queda prohibido no intentar comprender a las personas,
pensar que sus vidas valen más que la mía,
no saber que cada uno tiene su camino y su dicha,
sentir que con su falta el mundo se termina.

Queda prohibido no crear mi historia,
dejar de dar las gracias a mi familia por mi vida,
no tener un momento para la gente que me necesita,
no comprender que lo que la vida nos da, también nos lo quita.

(Alfredo Cuervo Barrero)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 6.07.15