Ink: The Book Of All Hours

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A leitura de “Ink” – Hal Duncan -, continuação do complexo e controvertido “Vellum” que sempre revisito para obter uma nova leitura. A continuação segue a mesma lógica e coerência iniciada pelo antecessor, mesmo porque a percepção se adapta ao caleidoscópico textual e assim pode-se ver claramente a relação de cada capítulo, de cada parte com outras, a forma que os personagens dos distintos universos se constroem, os diferentes planos de narração e as diferentes linhas temporais. Sem sombra de dúvida, “Ink” (ou “Tinta” na versão espanhola), é a culminação da maior obra fantástica da primeira década do século XXI.

Duncan é um escritor de grande talento, com passagens em que o ritornelo é aplicado ao conceito de múltiplos universos e com grande habilidade para a documentação. A riqueza textual do livro anterior, o mapa em chamas, foi substituída por uma maior concentração nos personagens, no conflito entre as facções dos anjos, na busca do livro que contem as bases do multiverso, nas nano-máquinas que adquirem inteligência artificial; é a esse conflito que Duncan dedica o segundo volume, apresentando simultaneamente distintas realidades e múltiplas versões dos mesmos personagens.

Talvez o único ponto que torna Duncan um tanto cansativo é sua incurável capacidade de escrever incessantemente sobre o mesmo tema, às vezes apenas para comunicar a mesma mensagem, por exemplo, a montagem em paralelo entre as andanças de Jack, o agente do caos influenciado por Cornelius e a representação da obra “As bacantes” de Eurípides.

Duncan rompe com a saga do herói fazendo uma mitologia comparada em sua excelente ambientação histórica para sugerir realidades alternativas. Essa renuncia da progressão narrativa tradicional torna-se o ponto forte e também o seu problema, sendo um livro para poucos. Alguns dirão que “Ink” é mais compreensível e mais focada, corrigindo a dispersão de “Vellum”; outros creem que, na segunda parte de sua obra, Duncan tornou o livro apenas mais comercial. De meu ponto de vista, já tendo lido e relido tantas vezes, “Vellum e Ink” são obras primas, mas o excesso de prodigalidade atordoa e deixam muitas pessoas indiferentes diante de tanto ruído e fúria.

Poeta Mórbido



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Categoria: Resenha |
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| Postado em: 17.12.17

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