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O Poeta Mórbido

autoria:

Imagem by Poeta Mórbido

O poeta atira as armas alheias,
pronto o reino inimigo esta tomado
O Poeta Mórbido não chora
O caminho para liberdade esta cheio de bárbaros
E é inútil prosseguir viagem.
Desce a escuridão sobre os homens,
A tua eterna lanterna de luz roxa ilumina os passos agora…
Para onde vamos?
O que será de nós, se o poeta nos deixar
aqui nessa cidade tomada pela ganância e pelo ódio?
Não precisamos de votos!
Não precisamos de velas!
Neste momento de desespero e agonia
os versos mortos do poeta ganham vida,
ganham formas, viram flores que são entregues na hora do almoço.
Os soluços param as estrelas,
Os bárbaros abandonam a cidade,
As armas são recolhidas à mão.
O poeta não chora,
O poeta não mija,
O poeta não voa,
O poeta só fuma…

(Elizeu Braga)

Notas:

  • Poema declamado e editado por Laura.
  • Compositor: Neun Welten
  • Música: Valg


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Categoria: Poesia |
| Postado em: 21.03.15

O Lamento de Jack

autoria:

Ninguém pode negar
sou melhor pra assustar
reconhecem e respeitam meu talento
De repente apareço e o luar escureço
e me destaco em tudo que invento

Sem esforço eu sou o tal com meu charme espectral
Fama de assustador eu ganhei cedo
Ao mostrar minha mão que ninguém diga
que não assustei aos que diziam não ter medo

Mas ano após ano a rotina me enfastia,
estou cansado de ouvir o mesmos gritos de agonia

E eu Jack, o rei abóbora.
Não aguento mais, as coisas tão iguais.
No interior dos meus ossos agora cresceu demais
a curiosidade de conhecer o mundo lá fora
e essa tal de felicidade.

Sou o mestre do espanto,
o demônio do pranto que de espalhar terror não se cansa.
Apesar do meu porte minha fama
é tão forte que vai desde a Inglaterra até a França
Morto estou reconheça, até tiro a cabeça,
quero ver se você não tem medo

Ninguém faz um truque meu,
ninguém grita como eu, pois a força
é minha e isso eu não concedo
Mas como entenderiam, como explicar,
que o rei abóbora cansou de assustar
Exausto e fraco não quer desistir

Ah se eu pudesse disso tudo desistir
No interior dos meus ossos agora cresceu demais
a curiosidade de conhecer o mundo lá fora
e essa tal de felicidade.

(Danny Elfman)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 24.12.14

Papai Noel, Velho Batuta

(O Sapato do Pobre – A Cigarra, 15 de dezembro de 1923)

Papai Noel velho batuta
Rejeita os miseráveis
Eu quero matá-lo
Aquele porco capitalista

Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres

Pobres, pobres

Mas nós vamos sequestrá-lo
E vamos matá-lo

Por quê?

Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal

Por quê?

Papai Noel velho batuta
Rejeita os miseráveis
Eu quero matá-lo
Aquele porco capitalista

Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres

(Garotos Podres)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 24.12.14

Além-tédio


Nada me expira já, nada me vive —
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital…
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu… Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios…

(Mário de Sá-Carneiro)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 25.08.14

Presságio

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

(Fernando Pessoa)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 14.08.14

Let the dawn keep shining out

Let the dawn keep shining out,
Let the warbler sing at night,
How I wish I was allowed
To embrace and hold you tight!

Our boat will float with blessing
In the canes with rustling leaves,
You will cling to me, caressing,
Heated passion on your lips.

Sing, my love, and let the air
Flow with the amazing song,
Youre more beautiful and fair
Than the bird that sings along.

 (Alexander Blok)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 14.08.14

Cai chuva do céu cinzento

Chuva – Oswaldo Goeldi (1957)

Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.

Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.

Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.

(Fernando Pessoa)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 13.08.14

Perdi os Meus Fantásticos Castelos

Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma…
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!

Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma…
– Tantos escolhos! Quem podia vê-los? –
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!

Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias…

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas…
Sobre o meu coração pesam montanhas…
Olho assombrada as minhas mãos vazias…

(Florbela Espanca)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 19.06.14

O Fósforo

autoria:

Imagem by Stanislav Aristov

Acendendo um fósforo
acendo Prometeu, o futuro, a liquidação dos falsos deuses,
o trabalho do homem.

*

O fósforo: tão raivoso quanto secreto. Furioso, delicado.
Encolhe-se no seu casulo marrom; mas quando chamado e provocado,
polêmico estoura, esclarecendo tudo.
O século é polêmico.

*

O gás não funciona hoje. Temos greve dos gasistas.
A Itália tornou-se a Grevelândia.
Mas preferimos essa semi-anarquia à “ordem” fascista.
O fósforo, hoje em férias, espera paciente no seu casulo
o dia de amanhã desprovido de greves.
O dia racional, o dia do entendimento universal,
o dia do mundo sem classes, o dia de Prometeu totalizado.

*

O fósforo é o portador mais antigo da tradição viva.
Eu sou pela tradição viva, capaz de acompanhar a correnteza
da modernidade. Que riquezas poderosas extraio dela!
Subscrevo a grande palavra de Jaures: “De l’autel des
ancêtres on doit garder non les cendres mais le feu.”

(Murilo Mendes)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 6.06.14

Cantiga de Malazarte

autoria:

Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.

Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,
tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.

Desloco as consciências,
a rua estala com os meus passos,
e ando nos quatro cantos da vida.

Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,
não posso amar ninguém porque sou o amor,
tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir desculpas ao mendigo.

Sou o espírito que assiste à Criação
e que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo.
Nada me fixa nos caminhos do mundo.

(Murilo Mendes)

 



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 6.06.14