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Eu

Nas calçadas pisadas
de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneo de frases ásperas
Onde forcas esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
pescoço de torres oblíquas
só soluçando eu avanço
por vias que se encruzilham
à vista de crucifixos polícias

(Vladimir Maiakovski)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 2.09.11

Uma Palavra

Não sei,
você deve ser
uma palavra.
dita suave
de lábios febris
e vapor de frio
na pronúncia.

Uma palavra escura.

isenta dos

dogmas gramaticais
munida de soluços secos
e dimensões in-proporcionais

Uma palavra pequena que
nao cabe na boca
nem no papel
mas é dita pela grama
orada pelos hereges.
e declarada pelas constelações

Palavra grande
que desperta a revolução
no alvorecer do fim do mundo
e consola os demônios
no deleitar da escuridão

repetida
transcrita
desenhada
antes e depois
do tempo e dos deuses
passando por gerações de
meninas grávidas
e poeira cósmica sem vida

Uma palavra, meu bem
que ressuscitará perfumes antigos
e abraços tão fortes em pontos de ônibus

Um palavra dita ao ouvido
baixinho
preencherá de poesia
os pulmões de Deus

o fazendo criar mundos com flores e saias
dos mesmos cheiros e contornos dessa palavra

Uma palavra à prova de silêncio
mas que que o silêncio também diz
profere chorando até suas lágrimas
matarem a cede do tempo-espaço-amor

Uma palavra.
Pena os mortos não falarem.

(Poeta Bastardo)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 30.08.11

A Cristandade


Padre açúcar,
Que estais no céu
Da monocultura,
Santificado
Seja o vosso lucro,
Venha a nós o vosso reino
De lúbricas mulatas
E lídimas patacas,
Seja feita
A vossa vontade,
Assim na casa-grande
Como na senzala.
O ouro nosso
De cada dia
Nos dai hoje
E perdoai nossas dívidas
Assim como perdoamos
O escrava faltoso
Depois de puni-lo.
Não nos deixeis cair em tentação
De liberalismo,
Mas livrai-nos de todo
Remorso, amém.

(José Paulo Paes)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 30.08.11

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar

– Lá sou amigo do rei –

Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

(Manuel Bandeira)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 25.08.11

Aprendizado

Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.

Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão

que a vida só consome
o que a alimenta.

(Ferreira Gullar)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 25.08.11

Sentimento do Mundo

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.

(Carlos Drummond de Andrade)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 25.08.11

El Puente

Para cruzarlo o para no cruzarlo
ahí está el puente
en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país

traigo conmigo ofrendas desusadas
entre ellas un paraguas de ombligo de madera
un libro con los pánicos en blanco
y una guitarra que no sé abrazar

vengo con las mejillas del insomnio
los pañuelos del mar y de las paces
las tímidas pancartas del dolor
las liturgias del beso y de la sombra

nunca he traído tantas cosas
nunca he venido con tan poco

ahí está el puente
para cruzarlo o para no cruzarlo
yo lo voy a cruzar
sin prevenciones

en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país.

(Mario Benedetti)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 10.08.11

O Abrigo Noturno

Soube que em Nova York
Na esquina da Rua 26 com a Broadway
Todas as noites do inverno há um homem
Que arranja abrigo noturno para os que ali não tem teto
Fazendo pedidos aos passantes.

O mundo não vai mudar com isso
As relações entre os homens não vão melhorar
A era da exploração não vai durar menos
Mas alguns homens têm um abrigo noturno
Por uma noite o vento é mantido longe deles
A neve que cairia sobre eles cai na calçada.
Não ponha de lado o livro, você que me lê.

Alguns homens têm um abrigo noturno
Por uma noite o vento é mantido longe deles
A neve que cairia sobre eles cai na calçada
Mas o mundo não vai mudar com isso
As relações entre os homens não vão melhorar
A era da exploração não vai durar menos.

(Bertolt Brecht)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 8.08.11

Sobre Dor

minha primeira e única esposa
fez uma pintura
e falou para mim
sobre ela:
“É tudo tão doloroso
para mim, cada pincelada é
dor…
um erro e
todo o quadro é
arruinado…
você nunca vai entender a
dor … “

“olha, querida”, eu
disse, “por que você não faz algo fácil
algo que você gostaria de
fazer?”

ela apenas olhou para mim
e eu acho que foi a sua
primeira compreensão da
tragédia de ficarmos
juntos.

tais coisas normalmente
começam
em algum lugar.

(Charles Bukowski)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 23.07.11

Te Quiero

Despues de todo y Antes que nada

Te dije, te digo y te diré, porque, el amor es para siempre.

Te digo por ejemplo:
Te quiero ahora que hace calor,
Y ayer que llovía.
En las mañanas nubladas,
Y en las noches abiertas,
Te quiero
Te quiero de pie, tendida,
Dormida y despierta.

Te quiero a la una, a las dos a las tres,
Y a las siempre.

Te quiero,
Te quiero en la casa y te quiero en el camino,
Te quiero después, antes y ahora mismo,
Te quiero,
Te quiero porque me quieres,
Y toda tu me lo gritas,

Te quiero porque en ti comienzo y termino,
Te quiero porque nos encontramos y nos perdemos uno en el otro.
Digamos que te quiero con todos los que soy incluyéndome a mí mismo.

Te quiero cuando la tarde
Y tus manos tienen frío,
Te quiero frente a la mar,
En el desierto y el río.

Te quiero cuando la Luna
nos confía los secretos,
en la paz de tu mirada,
y el incendio de tu cuerpo.

Te quiero cuando caminas,
Y te quiero cuando cantas,
Te quiero cuando te duermes,
Y más cuando te levantas.

Te quiero cuando la noche
Me hace sentir un poeta,
Te quiero después de todo
Y antes que nada en la tierra.

(Facundo Cabral)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 10.07.11