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Maldito Mundo Moderno

autoria:

Mundo moderno, marco malévolo, mesclado mentiras,
modificando maneiras, mascarando maracutaias,
majestoso manicômio.

Meu monólogo, mostra mentiras, mazelas, misérias,
massacres, miscigenação, morticínio,
maior maldade mundial.

Madrugada…
matuto magro, macrocéfalo,
mastiga média morna, monta matumbo malhado,
munido machado, martelo…
mochila murcha, margeia mata maior.

Manhãzinha move moinho
moendo macaxeira, mandioca.

Meio dia mata marreco…
manjar melhorzinho.

Meia noite mima mulherzinha mimosa,
Maria morena, momento maravilha,
motivação mútua mas monocórdia,
mesmice.

Muitos migram macilentos,
maltrapilhos, morarão modestamente:
malocas metropolitanas; mocambos miseráveis,
menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo.

Metade morre… mundo maligno,
misturando mendigos maltratados…
menores metralhados, militares mandões,
meretrizes marafonas, mocinhas, mera meninas…
mariposas, mortificando-se moralmente,
modestas moças maculadas,
mercenárias mulheres marcadas…
mundo medíocre.

Milionários montam mansões magníficas,
melhor mármore, mobília mirabolante,
máxima megalomania,
mordomo, Mercedes, motorista,
mãos magnatas manobrando milhões
mas maioria morre minguando.

Moradia meia-água, menos, marquise.
Mundo maluco, máquina mortífera,
mundo moderno melhore, melhore mais,
melhore muito, melhore mesmo.

Merecemos…
Maldito Mundo Moderno,
mundinho merda.

(Chico Anysio)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 13.12.11

La Higuera

Porque es áspera y fea,
porque todas sus ramas son grises,
yo le tengo piedad a la higuera.

En mi quinta hay cien árboles bellos:
ciruelos redondos,
limoneros rectos
y naranjos de brotes lustrosos.

En las primaveras,
todos ellos se cubren de flores
en torno a la higuera.

Y la pobre parece tan triste
con sus gajos torcidos que nunca
de apretados capullos se visten…

Por eso,
cada verz que yo paso a su lado,
digo, procurando
hacer dulce y alegre mi acento:
– Es la higuera el más bello
de los árboles en el huerto.

Si ella escucha,
si comprende el idioma en que hablo,
¡qué dulzura tan honda hará nido
en su alma sensible de árbol!

Y tal vez a la noche,
cuando el viento abanique su copa,
embriagada de gozo, le cuente:
– Hoy a mi me dijeron hermosa.

(Juana de Ibarbourou)

 

 



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 25.11.11

Poética Inútil

Às vezes o poema vem como um soluço
Às vezes foge como um rato mundano, sujo, sem honra e moral
Compactado em formas desconhecidas, dentro da morte
Ora formato de lágrima
Ora sem forma, caótico
Outrora concreto, mestiço
Absurdo
Visto dos homens dentro de letras que querem nascer
Palavras que querem dizer

Mas dizer o que?
De que me ajuda o papel
O vocábulo político
Inimigo do estado e da razão,
Se somos feitos do indizível?
Que quer dizer o poema?
Esse determinado espaço de letra e outros feitiços da Terra?

Passo por páginas Brasileiras
Russas
Francesas
Alemãs

Passo por páginas de animais (animalescas?).
De ruas bocas banheiros fétidos brigas
Gemidos propagandas in-colorização assinada
E leio tudo,
Com os sentidos que tenho e os que não tenho (é verdade, pois com eles não leria direito)
E toda essa informação em forma química física metafísica
Torna-se um quimo de repugnância em um estômago vazio
Um bolor úmido feito de dizeres sem pretensões e semânticas não importantes
Que (pessoalmente) nem faço favor de rimar e embelezar
Em tabelas e planilhas de verso bonito tecnologias morais

Outros dirão (disseram dizem) que tudo é poesia
Como vermelho do pôr-do-sol
E a esperança dos pobres
Que o que não disse é poesia
Que o que xinguei é poesia
Que o que caguei é poesia
Que o que chorei é poesia
Que o que perdi é poesia

Será poesia a angustia que não interessa a ninguém?
A perda que só eu sofrerei?
O sol que não é de ninguém?

Às vezes o poema é castigo
É válvula
Protesto (e talvez nunca ganhe)
É couraça
Aluguel mofado

De que importa o poema pra quem tem fome?
Se a fome de carboidrato ignora rimas rondós sonetos
Fome de arte temos nós, perdidos.
Achados
E o poema desse salgado na garganta
Quente, ó grandes poetas de artigos oficiais
Roteiristas de comédias românticas
Assobio entre galhos

A minha poética na diz
Nada tem a dizer além da letra que me escapa
A mão e senta-se no branco papel pálido de náusea e ruído
Às vezes escapa
Às vezes é escape.

(Poeta Bastardo)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 23.11.11

Semaforum

Ela observa cega de visão
Os monstros mecanizados na nova era
As feras metálicas rugem impondo
Temor aos pedaços de carne ambulante

O borrão de noite pousado no labirinto
Indiferente à dor e à umidade
Intenso como um segundo
Disperso como os dias

Corajosa e irracional
Ela segura destemida
Sua besta selvagem em seu punho
Sua mais nobre fonte de companhia

Sua fera poderia acompanhá-la
Por eras e tempos indiscretos
Em momentos tão invisíveis quanto esse
Ela não sorri; sua fera tem um olhar de criança

Sem contas a pagar
Satisfações cheques impostos
Multas amores
Esperanças

Ela atravessa cega de visão o labirinto de cores
Noturnas
Anda
Cala
Insere sua irrelevância cortante
No espaço tempo pra ninguém ver

Uma dupla: imortal como uma ideia
Seguem seu finalismo monocromático
Em busca de mais um dia ingrato

Curiosos.

Infinitos.

Esfomeados.

(Poeta Bastardo)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 13.10.11

O Jardim

El Castillo del Parque Rodó (Uruguay)

Existe um jardim antigo com o qual às vezes sonho,
sobre o qual o sol de maio despeja um brilho tristonho;
onde as flores mais vistosas perderam a cor, secaram;
e as paredes e as colunas são ideias que passaram.

Crescem heras de entre as fendas, e o matagal desgrenhado
sufoca a pérgula, e o tanque foi pelo musgo tomado.
Pelas áleas silenciosas vê-se a erva esparsa brotar,
e o odor mofado de coisas mortas se derrama no ar.

Não há nenhuma criatura viva no espaço ao redor,
e entre a quietude das cercas não se ouve qualquer rumor.
E, enquanto ando, observo, escuto, uma ânsia às vezes me invade
de saber quando é que vi tal jardim numa outra idade.

A visão de dias idos em mim ressurge e demora,
quando olho as cenas cinzentas que sinto ter visto outrora.
E, de tristeza, estremeço ao ver que essas flores são
minhas esperanças murchas – e o jardim, meu coração.

(H.P. Lovecraft)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 10.09.11

Milonga de Pelo Largo

Milonga de pelo largo de ojos oscuros
como la noche,como la noche.
Historias de penas grandes de gente joven,
de penas viejas, de 20 años.

Consuelo de los que viven siempre arrastrados,
por la rutina, que cosa seria.
Recuerdos de los que huyen de nuestra tierra,
de la miseria, de la violencia.

Te ofrezco mis margaritas que están vacías,
que están marchitas, que ya están secas.
Te doy todas las renuncias de cosas simples,
que llevo hechas, que llevo hechas.

Milonga mi compañera que me comprende,
que me protege y me abriga.
Frazada del pobre hombre que siente frío
y no se queja, ya no se queja.

Hey, hey, hey, hey, hey, hey
Ya no se queja…

(Gastón Ciarlo ‘Dino’)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 10.09.11

Ah querem uma luz melhor que a do sol!

Ah querem uma luz melhor que a do sol!
Querem campos mais verdes que estes!
Querem flores mais belas que estas que vejo!
A mim este sol, estes campos, estas flores contentam-me.
Mas, se acaso me descontento,
O que quero é um sol mais sol que o sol,
O que quero é campos mais campos que estes prados,
O que quero é flores mais estas flores que estas flores
Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira!
Aquela coisa que está ali estava mais ali que ali está!
Sim, choro às vezes o corpo perfeito que não existe.
Mas o corpo perfeito é o corpo mais corpo que pode haver,
E o resto são os sonhos dos homens,
A miopia de quem vê pouco,
E o desejo de estar sentado de quem não sabe estar de pé.
Todo o cristianismo é um sonho de cadeiras.
E como a alma é aquilo que não aparece,
A alma mais perfeita é aquela que não apareça nunca
A alma que está feita com o corpo
O absoluto corpo das coisas,
A existência absolutamente real sem sombras nem erros
A coincidência exata (e inteira) de uma coisa consigo mesma.

(Alberto Caeiro – Heterônimo de Fernando Pessoa)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 8.09.11

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

(Carlos Drummond de Andrade)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 5.09.11

O Poeta Futuro

autoria:

O poeta futuro já se encontra no meio de vós,
Ele nasceu da terra
Preparada por gerações de sensuais e de místicos:
Surgiu do universo em crise, do massacre entre irmãos,
Encerrando no espírito épocas superpostas.
O homem sereno, a síntese de todas as raças, o portador da vida
Sai de tanta luta e negação, e do sangue espremido.

O poeta futuro já vive no meio de vós
E não o pressentis.
Ele manifesta o equilíbrio de múltiplas direções
E não permitirá que logo se perca,
Não acabará de apagar o pavio que ainda fumega,
Transformando o aço da sua espada
Em penas que escreverão poemas consoladores.

O poeta futuro apontará o inferno
Aos geradores de guerra,
Aos que asfixiam órfãos e operários.

(Murilo Mendes)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 3.09.11

A Flauta Vértebra

Premonition of Civl War – Salvador Dalí

A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.

(Vladimir Maiakovski)



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Categoria: Poesia |
| Postado em: 2.09.11